PFLEX PARQUE DAS OCUPAÇÕES
O Projeto Flexibilizado (PFlex) Parque das Ocupações foi uma disciplina desenvolvida no primeiro semestre de 2016 sob orientação da professora Marcela Brandão, na qual, estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMG se envolveram em questões acerca da luta pelo direito à moradia e pela preservação do verde, presentes no contexto das ocupações urbanas Eliana Silva e Paulo Freire, situadas na regional Barreiro do município de Belo Horizonte.

processos de aproximação do território

A metodologia da disciplina se embasou na construção de cartografias coletivas das potencialidades locais e das práticas cotidianas de tais ocupações, com foco na relação dos moradores com o verde. Dessa forma, os alunos, divididos em grupos, desenvolveram inicialmente mapeamentos aéreos, ou seja, com pontos de vista distanciados, passando pelo estudo de dados e informações preexistentes no território. Entre os mapas produzidos pelas equipes estão: o de declividades do Parque das Ocupações; o dos trajetos/trilhas e suas classificações viárias; e o de equipamentos públicos, serviços, pontos de ônibus e pontos de reciclagem próximos. 

A etapa seguinte contemplou a elaboração de uma maquete física do território. Ela serviu como uma ferramenta dialógica para que moradores e alunos identificassem, por meio de ícones, cada local e sua altimetria, assim como a presença de água, lixo, canteiros, hortas e residências. Fios de barbante e outros itens maleáveis foram utilizados para identificar os percursos mais utilizados pelos moradores.

 

Fotos dos processos de trabalho dos alunos da disciplina.

Assim como a maquete, outros mapas aterrizados foram produzidos, ou seja, mapas desenvolvidos pelos alunos a partir das visitas ao território e conversas com os moradores. Algumas dessas cartografias podem ser visualizadas abaixo, e por meio delas os alunos puderam constatar que, apesar da subtração da vegetação nas fronteiras entre o território das moradias autoconstruídas e a área de preservação ambiental, o verde retornava às ocupações sob a forma de jardins, hortas e pomares, em vários quintais e frentes das casas, por motivos diversos, desde a necessidade alimentar, passando pela composição da renda familiar, até alcançar a memória afetiva associada aos sabores e ao cheiros das plantas. (BRANDÃO, 2019) Dessa forma, foram observadas a presença de diversas artesanias, oficinas de resíduos e criação de animais.

 

Mapeamentos feitos pelos alunos a partir de visitas ao território.

produção de cartografias

Diversos levantamentos foram feitos pelos alunos com o apoio do grupo de pesquisa, entre eles: mapas dos dados físicos do Vale das Ocupações, relativos ao relevo; microbacias hidrográficas; limites da Área de Preservação Permanente; legislação de uso e ocupação do solo; classificação viária; acessos; pontos de ônibus; velocidade dos ventos; equipamentos públicos; mercados e sacolões; adensamento da mata; geologia; caminhos presentes entre as ocupações e entorno; e principais destinos no bairro. A análise dos mapas levou os grupos às seguintes conclusões:

Há presença de nascentes e canais fluviais na região, e de acordo com as leis do Conama não é permitido ocupar a 50 metros de nascente e 30 metros do leito do rio. Ao analisar os mapas foi possível perceber que as indústrias da região ferem mais a lei que a própria ocupação.

As nascentes e os córregos são contribuintes da bacia do Rio Arrudas.

Os córregos são utilizados pela população para banhos.

Os equipamentos públicos se localizam em áreas estratégicas limítrofes à área de proteção ambiental.

Ainda, as cartografias provocaram no grupo de alunos percepções de potencialidades e fragilidades no território, como as descritas abaixo:

propostas

A partir das cartografias colaborativas e do levantamento dos dados físicos do território, foi possível elencar diretrizes para o Parque, visando a contra invasão do verde na ocupação e a hibridação do verde natural da reserva, com o verde produtivo identificado nas hortas, pomares e jardins cartografados nos quintais e frentes das casas. Entre as propostas desenvolvidas estão: 

RUAS COMPARTILHADAS: A presença de um uso mais diverso e equilibrado da rua, identificado nas ocupações, foi visto como uma oportunidade para a proposta de ruas compartilhadas. O objetivo é que as vias possam ser espaço de pedestres, bicicletas e animais, e não só de veículos, além de abrigar jogos, brincadeiras, jardins e arborização.

PAVIMENTAÇÃO: A cidade formal opta por uma opção de pavimentação que nem sempre é a melhor opção quando se trata de um uso misto da rua e mais próximo do ambiente natural. Além da passagem de públicos diferentes é preciso pensar no escoamento da água. Por isso algumas possibilidades diferentes de pavimentação foram abordadas.
(RE)INVASÃO DO VERDE: Imagem 1: Representação de uma praça que poderia ser replicada em outros lugares; Imagem 2: Espaços inutilizados e quintais poderiam se transformar em hortas. Esse é um exemplo de uma praça das pimentas, com o morador que já cultiva pimentas em seu quintal.
PARQUES DE BOLSO: Foi observado que a maioria das crianças se divertem próximo do local onde moram e usam o espaço de despejo de resíduos, como pneus e resto de construção civil, para se divertir, mesmo com um parquinho feito especificamente para as crianças das ocupações. Como há diversos usos nas ruas, crianças, jogos, passeios com animais, etc., e alguns pontos de encontro já existentes, estes poderiam ser potencializados, a partir de micro-praças, parquinhos de bolso e ruas compartilhadas.
EQUIPAMENTOS COLETIVOS: Para lidar com os poucos espaços de referência encontrados nas Ocupações do Barreiro, percebendo presença de alguns locais com essa função, o grupo composto pela Bruna Souza, Marina Reis e Octávio Pena sugeriram a criação de uma sede de formação do MLB.

segmentos posteriores

Com o término da disciplina, os projetos desenvolvidos foram sistematizados pelo grupo de professores e alunos integrantes do Natureza Política, resultando em um caderno, entregue no início de 2017 à coordenação das ocupações. A partir daí, esse caderno passou a ser usado como instrumento de negociação junto ao poder público do município. Desde então, o nome “Parque das Ocupações” passou a ser usado para identificar o projeto paisagístico e urbanístico do Vale das Ocupações, no qual estão inseridas seis (6) ocupações, dentre elas a Eliana Silva e a Paulo Freire.

Além disso, as propostas produzidas pela disciplina e pelo grupo de pesquisa  continuam sendo desdobradas até os dias atuais, sempre norteadas pelas práticas e condutas que se conformam como re-existências no território e aproximam moradia e meio ambiente. Essas re-existências são enfatizadas em ações marcadas pelo cuidado e de apreço pelas plantas, animais, água, como também pela troca e pelo compartilhamento, identificável, por exemplo, na coleta e reciclagem de resíduos.

Saiba mais sobre as ações que já aconteceram no Parque das Ocupações na linha do tempo abaixo: